quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Sobre o perdão





           O perdão não possui diretivas que fomentem a regularidade de sua ação conforme seria aposto mediante um “uso” ou uma “ação”. O perdão, na verdade, não atua. É um total “não atuar”. Diferentemente do que se diz no Tao Te Ching, não atuar significa que não existe uma predisposição do sujeito em estar atento ao que se diz ação conforme o que ele mesmo julga como sendo a atenção. Não podes definir a atenção. A atenção é uma entrega total ao ato de não atuar. Assim, não atuar significa unicamente estar atento, pois esta é a maneira pela qual a atuação ocorre.

            O perdão realmente está associado a “ver o visto”, conforme já entendeste. No entanto, perdoar pode ser definido simplesmente como um ato de facilitar os milagres. Quando perdoas para destruir, conforme vê-se nos suplementos, encontras formas diretivas de assumir para ti o perdão. Não podes ser dono do perdão. O perdão acontece, é uma ilusão, mas é dado. Parece que tens que fazer um esforço para perdoar, mas não precisas fazer nada, conforme diz o Curso. “Perdoar é esquecer”, mas não é apenas isso, pois esquecer implica em dizer que certa vez estivestes em rancor, pois o rancor é a permanência da falta de amor no tempo. Esquecer em vez de perdoar implica em dizer que apagastes de tua memória uma falta que viste em alguém. Mas a memória pode ser evocada, e o perdão associado à memória é falho, ou deteriorado por uma circunstância qualquer que relembre o ato como estando novamente em vigor. Dizes: “isto é errado”, mas acontece o erro e não perdoas novamente, pois não poderias perdoar o erro em si. Assim, perdoar é não ver o que está além da associação entre teu entendimento e o propósito de tuas necessidades no tempo. 

            O perdão é simples, pois ele simplesmente acontece. No entanto, quem pode angariar para si o que o perdão concebe sem antecipar o ato da ação ao julgamento? “Daqui pra frente vou perdoar todos aqueles que fizerem isto ou aquilo”, ora! Isto não é perdão, pois o perdão não precisa de planejamento. Queres te livrar de teu mau amor em termos que adiantariam o pecado? Achas mesmo que o perdão anda com uma corda no pescoço de cada um, esperando por ti para tirá-la? É isso que pensas? Pois é assim que o perdão é lido pelo mundo, e  todos os que pisam o chão desse mundo acreditam que precisam perdoar o próprio pé. Como escapar de uma proposição destas? Em que a premissa é a própria ação? Neste caso, atuar seria, comparativamente, como uma ferramenta de não-perdão. Portanto, como o tempo sucede às imagens, cada tic-tac em seus mutantes segundos apresentará diferenças na ação. O que conseguirás fazer com um perdão mutante? Terás que mudar a forma de perdoar a cada minuto que passa?

            Convém lembrar que o perdão conforme concebes é um resquício de um pensamento julgador, que entende a si mesmo como o juiz do que é certo e do que é errado. Portanto, mesmo o que julga como “certo” está associado a uma definição antecipada, a uma forma de perdão que diz que alguém é certo, é feliz, é “gente-boa”. Isto não pode ser um elogio! É muita projeção em cima de um julgamento baseado no relacionamento especial de amor. A falta de perdão sempre formará um relacionamento especial.

            Portanto, perdoar não torna uma pessoa perdoada “melhor”. A redenção é um ato de coragem em ater a si apenas as imagens que evocas sem expectativa de retorno! Não há um julgamento sobre as imagens, e assim o homem se redimiu das imagens que criou. Não houve realmente um arrependimento. Isto implica em dizer que algum dia escolhestes o pecado, mas o pecado não existe, e eis novamente o mesmo demonstrado.

            Parece muito difícil falar sobre o verdadeiro perdão, pois não consegues desvinculá-lo do perdão que inventastes. No entanto, perdoar é a coisa mais simples deste mundo, e dentre as suas ilusões, é a única que é macia e leve como um aceno calmo e gentil a uma criança. Claro que terás medo de perdoar, pois até agora falamos apenas do perdão para destruir, o perdão julgador. Mas não te deixaremos sem respostas. Falemos então do verdadeiro perdão.

            O perdão não é um julgamento. Quando vês a teu irmão, como podes vê-lo, se ele não está aqui? O que vês, então? Vês o amor em andamento, e assim perdoas. Vês o amor errando? Então não vês o amor, mas podes ver o teu irmão pedindo ajuda. A alegoria da ajuda pode ser material, mas a verdadeira ajuda vem de Deus, através de ti, por intermédio Daquele Que fala por Ele. Então, não julgas a forma da ajuda. Simplesmente ouves ao teu Professor. O perdão surge da confiança nisto. Não podes perdoar julgando o que perdoas. Tu amas e simultaneamente perdoas. Não existe nenhum intervalo entre essas duas ações. Dizemos “ações”, pois elas estão muito próximas ao tempo, visto o perdão ser também uma ilusão, conforme vimos no UCEM. No entanto, o perdão está muito próximo ao “agora” conforme o concebes como “um momento tendendo a zero segundos”. É claro que não perceberás isso como fácil enquanto escolheres escalar os teus irmãos dentro de uma faixa de valores. Qualquer que seja esta faixa, econômica, social, religiosa, estética, seja o que for, é um envelope no qual queres colocar o teu irmão e endereçá-lo ao esquecimento. É triste, mas não pode ser demorado por ser irreal. Podes perdoar inteiramente em apenas um instante, se quiseres abrir mão dos teus “valores”. Onde encontrastes uma corrente, como diz o curso, deixaste lá a chave. Não é o teu irmão quem a esconde de ti, filho. Perdoa a teu irmão. Ele nada te fez. Ele nem pode fazer. Ele é tão  santo quanto tu mesmo o és. Mas não diga nada a ele, pois ele não pode ser julgado. Resgate nele a dignidade apenas tratando-o como digno de ser um Embaixador do Céu. E assim ele será para ti.

            Não perdoas o que vês. Perdoas o que não sabes. Perdoas o ato de existir neste mundo. Parece radical? É radical conforme tua forma ensimesmada em ver este mundo com seus duplos como verdadeiramente real. Se vês no teu irmão o erro, ou se ele te causa medo, ele traz para ti a bandeira do perdão hasteada para veres, pois se nada puderes aceitar dele como sendo teu, ele já está limpo! Não precisas lavá-lo. Só vês a extensão do Que És ou daquilo que pensas que és. Se vês um mundo mal, lembra então que és amado pelo próprio Deus. Se vês um mundo triste, lembra que a alegria é tua herança. Se vês um mundo temível, lembra que somente podes estar disposto ao que é santo. E se gostas de teu irmão como a um irmão, lembra que és santo como Deus te criou, e que és assim, e que serás sempre assim. Teu Irmão É como Deus Nos Criou. Teu irmão É, e antes de seres confundido em ego, Eram Um.

            Por um tempo ainda verás o teu irmão “diferente”. Mas o mesmo não demora a se revelar para ti, pois se vires ao óbvio, não deixarás de ver o que é real, e serás apenas um verificador do  mesmo, e isso só pode ser experienciado, não pode ser descrito.

            Te amo, em ti, a teus irmãos, por ti — pois te amo.  Ama a teus irmão com coragem em não querer amá-los como uma motivação. Vê a teu irmão em si, ele não vai revidar como se fosse te matar. Mas caso ele não esteja em si e tenha medo, aprenderás a ajudá-lo e a curar teu próprio medo. Não temas ao teu irmão. Não temas.

            Pai, quem sabe de Teus Filhos És Tu mesmo. Pedimos a revelação do mesmo, pois queremos ver a face de Cristo em nosso irmão. Queremos revê-los como São, segundo a nossa saudade Deles e de Ti. Precisamos de nossos irmãos santos, conforme o amor nos dá o sentido deles. Pai, revela para Teu Filho Santo o sentido do amor. Ele ama a seus irmãos e quer ater-se como amigo e santo, em Tua Vontade, dispondo amor para Rever-Te e Vê-los, conforme sejam para sempre amados, Nosso Irmão, em Cristo, pedimos. Amém.


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