sábado, 1 de junho de 2013

Sobre os milagres

             
            Estamos de volta a mais uma aventura em palavras. Decerto que as palavras podem apontar o caminho, mas nem sempre são elas mesmas o veículo do despertar. Acontece que as palavras ainda estabelecem para si conteúdo, um elemento fundamental à separação.  Os milagres, diferentemente, me parecem o colapso do conteúdo. Eles fornecem uma associação do tempo com o mistério da nova consciência, que não é em si um mistério, mas parece misteriosa enquanto ainda não acordamos.

               Os milagres atraem a mente à certeza por conta de sua evocação do certo. Ele garante que existe outro modo da mente operar no mundo que é válido, mas não pode ser definido pelos parâmetros deste mesmo mundo. O medo dos milagres faz com que o mundo torne-se ainda mais atraente, pois o mundo pode negar os milagres através da correlação em circuito fechado entre objetivos e fundamentos. O milagre não possui em si uma correlação plausível para ser compreendido no mundo em termos de fundamentos, pois seus efeitos não são estabelecidos por nenhuma causa física, embora possa se utilizar do físico como um meio para sua manifestação.

               O milagre apoia a diferenciação sem separar. Digo isso simplesmente porque o milagre indica outra ordem. Mas sendo a ordem que ele revela real, o milagre diferencia o que é desejável daquilo que é falso.  Um milagre não pode ser relacionado com nenhuma ordem, mas ele estabelece uma ordenação, e, por conta disto, diferencia. Após a aceitação do milagre, algo diferente agora passa a ser desejado.

               A forma do milagre, isto é, quando ele pode ser expresso de alguma forma, não parece ser o mais importante em sua ocorrência. Acredito que seu objetivo não é exatamente a reformulação do errado em certo, ou da doença em sua cura. Esta é a superfície, vamos dizer assim, do milagre. O verdadeiro milagre surge por conta da crença que ele evoca. Após sua ocorrência, não somos mais os mesmos, não podemos mais pensar da mesma forma, pois ele atesta, em diferenciação, que a diferenciação é um erro. Para aceitar os milagres é preciso aceitar seus paradoxos.

               Certa vez, eu dirigia meu carro em certo ponto de uma avenida bastante movimentada e, em um piscar de olhos, eu estava dali a uns dois ou três quilômetros. Pareceu instantâneo, e para mim foi mesmo uma supressão do tempo e espaço. Isso ocorreu a mais de dez anos, quando eu sequer sonhava em existir o Curso em Milagres. Tal fato me encorajou a abrir minha mente em favor do desconhecido — eu soube que havia algo diferente deste mundo em diferenças.

               O UCEM define de maneira brilhante o contexto do milagre. Está logo no início do capítulo 28: “O milagre nada faz. Tudo o que ele faz é desfazer.” (T-28, I, 1:1). Portanto, ele desfaz o que parece significativo, comprovando em essência que há uma ocorrência influente no mundo que não é deste mundo. Somente esta ocorrência é significativa.

               Talvez eu não alcance distinguir satisfatoriamente a importância do efeito do milagre na mente em relação à sua ocorrência. Este texto visa enfatizar o milagre segundo a perspectiva da mudança na mente de quem o recebe. Seu efeito observável pode ser de grande valia, mas acredito que este não é esse o objetivo do milagre. Posso estar errado em minhas observações, mas esta é a maneira como entendo as coisas por enquanto.


               Despeço-me aqui, pedindo a Deus que nos ajude a compreender o significado de Seus milagres. Amém.

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