sábado, 9 de julho de 2011

UCEM - Sobre ser desvanecido


Obrigado a ti!

                Saudações companheiros de jornada, meus amigos.

                Estou feliz em apresentar o segundo vídeo da série “Curtas de Um Curso em Milagres”, publicados generosamente no You Tube. Trata-se de pessoas comuns, que relatam suas experiências pessoais com o UCEM. Na última edição, publicamos o vídeo da irmã Regina, sob o qual discorremos acerca da noção de “soltar”. Agora, comentaremos o vídeo da irmã Adriana, que tratará mais especificamente sobre ser desvanecido, conceito lido sob a perspectiva da experiência ilusória de estar neste corpo, que a separação faz parecer real. Portanto, o tema que será tratado hoje a partir do vídeo de nossa irmã Adriana será o libertar-se da separação, o não agir, ou o agir sob a direção ou graça do espírito. Finalmente, sobre ser desvanecido.
                (O vídeo abaixo está em espanhol, mas em uma expressão bastante familiar à nossa língua. Para isso, a atenção ajudará, e não estamos sozinhos em nossa jornada. Ademais, este e outros vídeos podem ser encontrados no You Tube, digitando na busca a expressão em espanhol “Cortos de Un Curso de Milagros”. Boa Audiência.)




                Sobre ser desvanecido.

                Primeiramente, o vídeo inicia com a belíssima saudação: Olá! Bem vindo a Casa[1]. E por conta disto ficamos sabemos de Sua Fonte. Logo, o discurso emenda sobre o Curso: este Curso é um reconhecimento de quem és. Não aquilo que crês que és. Para mim, é uma experiência: a experiência da aceitação total de quem sou. Obviamente, tal experiência não será trazida pelos conceitos que fizestes de ti mesmo. Tais conceitos apenas fabricaram uma imagem de ti mesmo, que segues obedecendo, aliando-se a uma crença insana de que te destes a ti mesmo a “revelação”. No entanto, a experiência que Adriana trata no vídeo é a experiência da entrega, que supõe o desvanecer. O desvanecer é um conceito muito pouco perdoado, pois muitos supõem que ao serem desvanecidos perderão a si mesmos. Isso é uma bobagem, um pensamento muito cruel sobre ti mesmo, mas que valorizas. No entanto, aprenderás sobre desfazer todas as bobagens que criastes caso creias nisto: ainda sou como Deus me criou. Este passo é incrivelmente sobrevalorizado na primeira parte do livro de exercícios, pois ele fortalece a confiança. Confiar é o pressuposto necessário para o desvanecimento. Nada será tirado do filho de Deus. Nada! Pelo contrário: ao Filho será dado tudo o que ele realmente quer. Isso não é valioso? Não é ouro puro? Mas não basta crer nisto como fazes, ou seja, ao contrário. Como se dá esse “crer ao contrário?” Ocorre da seguinte maneira: acreditas que podes ser o guia de ti mesmo, e, por conta disto, acreditas que te absténs de julgar. No entanto, a maneira pela qual acreditas que te livras do teu próprio julgamento sobre ti mesmo muitas vezes torna-se desconfiada até mesmo disto. Então, para não julgares o que vistes, julgas a ti mesmo. Assim, reforças a noção de “identidade”, e acreditas que és quem pensas que és, e não te entregas finalmente à experiência abstrata, ao estado natural da mente.
                Será que acreditas que eu posso estar, por exemplo, escrevendo este texto sem a tua ajuda? Seria impossível! Por isso peço a ti: não me abandone, caríssimo irmão, pois o que tu crias me é valioso. Todos os leitores do UCEM estendem as Suas Ideias, e na mente de Deus tudo está criado. Ao entrarmos em contato com a experiência tão serena e real do desvanecer, tudo adquire significado. Assim, eu acesso até mesmo a tua mente, que está tão generosamente estendendo estes conceitos, apenas por pensar sobre eles. Jamais pela magia, mas lembrando que estamos todos em união, disto não duvides, mas Aquele que gerencia a união não julga. Por que então te julgas tanto? Julgarias a mim?
                Jamais o fizeste. Aonde estamos, em Casa, somos todos muito amáveis, e é Lá que verdadeiramente estamos. Estudamos tanto porque cremos nisto. Precisamos acordar, urge nossa união em termos de nos fazermos voltar. Isso não significa que precisamos nos encontrar, conforme se entende sob os auspícios da separação, ou seja, não precisamos estar todos no mesmo local físico, pois as extensões de Deus são de natureza mental, viajam até mesmo na velocidade de uma saudade, que é um ato de amor no tempo. Assim, nos revemos em amor, e revês em amor qualquer irmão que se apresentar à tua frente. Este irmão será eu, e tu também. Contudo, se ainda acreditas que este conceito é muito radical, precisas saber mais sobre ser desvanecido.
Deus não diferencia seus filhos. Precisas crer nisto com fé perfeita, pois assim somos, todos irmãos, nos perdoando e jamais julgando-nos, seja para o que inventamos “bem”, seja para o que inventarmos “mal”. Um irmão é um irmão. Se ele está ou não sereno em desvanecimento, depende muitas vezes de ti, que o encontra. Não queres mesmo libertar teu irmão? Pois libertando a ele estarás imediatamente libertando a ti. Eis aqui reiterado este assunto à noção de instante santo, que tanto te ajudará no teu retorno a Casa.
                Esta longa introdução nos dá recursos para resumir. Isto é tudo o que precisas para ter fé em que seremos finalmente desvanecidos. E que nos lembremos sempre das sábias palavras do músico Di Melo: “a vida em seus métodos diz: calma”.
                “Busquei a quem era fazendo coisas fora de mim: buscando novas relações, buscando novos trabalhos, viajando(...)”, e aqui a irmã Adriana prossegue dizendo que tentou entender a si mesma através da antropologia, estudando as culturas, enfim, buscando fora de si mesma alguma respostas.  E encerra essa argumentação dizendo que, “no fim, todos esses sonhos fracassaram.
                Quando buscamos encontrar aquilo que queremos através da noção de “sentido das coisas”, nos aproximamos demais do julgamento. No mundo da separação, se advoga muito por coisas completamente sem significado, e assim criam-se as civilizações e seus desdobramentos culturais. Enquanto não estiveres disposto a te entregar ao significado, podes atribuir-te de inação, mesmo se estiveres agindo. Já falamos aqui em outro artigo sobre a preguiça, e lá foi dito que a preguiça não se dá apenas na inação. Esta é a forma que a nossa cultura a lê. Segundo nosso empenho em despertar, melhor seria dizer que a preguiça é uma interferência no agir. E é exatamente disto que se trata. Acreditas que de alguma maneira podes escapar à responsabilidade sobre as imagens que vês. Podes, por exemplo, deixar o mundo ao encargo do julgamento dos jornais diários da televisão, ou ao estudo científico sobre a memória a se preservar. Podes acreditar ainda que as leis te protegem e que há segurança no esteio de valor que dás ao conteúdo de uma cultura em que muito por acaso nasceste. Poderias ter nascido em outra época no futuro, por exemplo, ou em outro mundo. Admitamos isto ao menos como hipótese, e não como uma verdade. Mas, jamais, em nenhuma cultura, se poderia proibir a cor azul.  Às coisas que te são dadas não precisas de ninguém para te dizer o que são. Não precisas da televisão, ou das leis, ou de outras tarjas culturais para saber o que és. No entanto, podes assistir ao telejornal, observar as leis, e viver harmoniosamente nesta cultura em que muito ocasionalmente nascestes e convives com tantos irmãos.
                Amaremos a todos. Não os julgaremos pelo que nos dizem as culturas, as meras tabuletas. Seremos felizes ao apontar uma saída para todos. “Estamos numa boa, pescando pessoas no mar”.
Desta maneira, ficamos sabendo que desfazer significar tomar para si as rédeas do que pensar, mas não pode ser de acordo com a mente errada, isto é, crendo que deves fazer algo. Pára por um momento aqui. Busquemos o instante santo. O exercício 32 diz: “eu inventei o mundo que vejo.” Pensemos sobre isto um pouco.
Inventar o mundo é dar-lhe significado. Atribuir-lhe valor. Apenas dizes: este mundo é feio, e assim será para ti. Há uma peça de teatro de Pirandello nomeada “assim é, se lhe parece”, e eis aí, neste título, toda tua confusão demonstrada. Se acreditares que uma situação qualquer é passível de ser julgada, ages como “uma pura marionete, mas sou eu aquela que, como uma grande artista, uma grande diretora de teatro, estou fabricando, fazendo com isto tenha vida, mas isso não é vida, isso é a vida que eu pus aí.”
Obviamente, se julgares uma situação que te é dada, transformas  isto no que queres. Alguma cultura pode ter nomeado a cor verde de azul. O que seria o azul, então? Acaso deixaria de existir a sua essência azul, para nós? Por acaso deixaria de ser uma cor? Ora, a ordem das árvores não altera o passarinho, mas pássaro se esteia melhor é na árvore da mente certa.
Então, há os valores culturais, religiosos, há o governo e as cidades, e as escolas, os relacionamentos e a mídia também há. No entanto, qualquer coisa que julgues acerca disto será de fabricação própria, fantasia de julgamento.
Podes contrapor aqui, e dizer que, na verdade, a cidade existe, pois experimentas viver em uma cidade. Mas experimentar está ligado ao sentido, e esse experimentar pode apenas ser percebido através da percepção. No capítulo III do UCEM se lê: “a capacidade de perceber fez com que o corpo fosse possível, porque tens de perceber alguma coisa e com alguma coisa”. Assim, entendemos que não somos marionetes, que as coisas não atuam sobre nós, mas somos nós quem damos às coisas os significados que a ela queremos atribuir valor. Assim, agimos como diretores do teatro do mundo, e usurpamos o lugar de Deus.
Se seguirmos com generosidade os exercícios do UCEM em breve saberemos quem somos, e estaremos dispostos a ver as coisas como dadas, e não as julgaremos. Isso não sabemos fazer ainda, e assim o Espírito Santo nos guarda e fornece os sentidos calmos, que são o significado real do mundo. E lembremo-nos sempre da inocência, nosso próximo assunto no vídeo da irmã Martina.
Contudo, ainda temos a dizer que “inventar o mundo que vejo” é afirmar que se está na direção oposta ao ato de ser desvanecido. O que é ser desvanecido? É simplesmente deixar que as idéias que fizestes sobre ti mesmo sejam completamente liberadas.  É soltar. No entanto, a expressão “ser desvanecido” pode ser mal interpretada, pois, embora ela abranja a noção de “soltar”, podes estar apto a teres medo de ser desvanecido ao acreditar que ser desvanecido é sumir no nada e perder a tua essência. Filho de Deus: queres abrir mão de todo o sentido de medo, todo o desconforto e tensão do julgamento? Queres ver a ti mesmo livre para experimentar de maneira incrivelmente feliz a tua verdadeira essência, como nos diz o UCEM? Então o que queres é ser desvanecido! Desvanecer não é sumir, e sim existir em Deus. Em certo sentido, abandonas toda essa loucura a que chamas mundo, mas não vais sumir nem deixar de ser quem és. Apenas deixarás de ser quem pensas que és. Este processo não é realmente difícil, mas é realmente diferente. No entanto, para tudo se pode dar o bom exemplo.
Apenas para fins didáticos, iremos nos utilizar de uma imagem poética para sugerir o estado de estar desvanecido em um corpo. Esta imagem não deve ser levada a sério em absoluto, pois é apenas uma sugestão. No entanto, servirá de guia para o raciocínio em questão. Digamos, portanto, que um indivíduo nascesse completamente destituído de todos os sentidos do corpo. Este corpo seria sem visão, sem tato, sem olfato, sem audição, sem nada — um corpo no vazio. Como se comportaria tal mente? Ora, ela jamais teria noção perceptiva que está separada, e não poderia julgar a si mesma, pois não poderia apreender e compartilhar a nossa forma da mente mentar suas especulações, e esse indivíduo completamente hipotético permaneceria desvanecido, embora não tivesse condições de saber disso, pois sua consciência seria completamente destituída de informações sobre o mundo da separação. A ausência de consciência deste sujeito muito hipotético faria com que ele não pudesse experimentar o significado de estar separado. No entanto, como ele estivesse impossibilitado de criar um ego, que precisa de referências separadas, a sua mente não experimentaria a ilusão de estar separada, e estaria desvanecida em Deus, sem sequer saber disto.  Na verdade, precisas ter cuidado com este exemplo, pois é muito fácil distorcê-lo. Podes acreditar, por exemplo, que ser desvanecido é estar sem essência, que perderás tudo e serás como o ser hipotético que inventamos. Não é assim, mas esta referência extrema de um desvanecimento implica em dizer que este indivíduo estaria entregue nas mãos de Deus, mas não saberia disto. Ele estaria salvo? Ora, todos já estão salvos, apenas não sabem disto. Por ficar sem saber, talvez esta mente tivesse que experimentar novamente a separação, caso necessitasse de cura, mas até mesmo num estado tão hipotético seria possível algum trabalho do Espírito Santo. Como Ele o faria? Dizer isso seria o mesmo que querer cumprir o papel Dele, que não sabemos. Portanto, nós, que temos os sentidos a nosso dispor, e que já tivemos contato com as imagens, os sons, os cheiros, e fizemos das ocorrências disto e de nosso modo racional de experimentá-los uma noção de quem somos, devemos, caso queiramos ser desvanecidos, abrir mão deste preconceito sobre si, que é a loucura do mundo. Diz ainda a Adriana: “pareço por um momento que estou nesta configuração física. Ok, aceito isto, aceito completamente que estou neste corpo. Mas eu sei, tal como tu o sabes, que tens esta experiência que não és este corpo. Não se trata de transcender através da meditação, através das drogas, por exemplo, pois é outra maneira de buscar a Deus. No final, estou escapando de mim mesma. Afinal, o UCEM é uma chamada imperativa, [na qual] eu estou chamando meu ser. Meu real ser está chamando para que eu regresse a Casa.”
Assim, estamos aptos a ler o livro de exercícios como uma chamada imperativa de si para consigo. Pedimos agora ao Espírito Santo que nos ajude a ouvir, e a Ti, Deus, que finalmente nos desvaneça. Amém.

“Ninguém é doido.
Ou, então, todos.”
João Guimarães Rosa.


[1] Todas as expressões utilizadas pela irmã Adriana serão traduzidas aqui.




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