domingo, 27 de fevereiro de 2011

Escolhe outra vez

Irmão:
tu que errastes,
que jogaste pedra na mãe,
que fizeste o triste enredo,
que pediste por misericórdia,
irmão: escolhe outra vez.

Tu,
que perdeste a dignidade,
que fizeste o feio, o errado;
 que tiveste na mão a ganância,
que sonhaste com glórias espúrias,
irmão: escolhe outra vez!

Tu,
que viste o enleio do medo,
que pediste esmola ao pobre,
que tiveste demais escondido,
que contou um segredo ao diabo
— irmão: escolhe outra vez.

Tu,
que fizeste o melhor de nada,
 que já sabe de tudo o engodo,
que pediu demais à mentira,
que viste excentricidades
 irmão: ainda temos chance!

Investe na tua coragem,
Desiste de tua perfídia,
Encosta essa cara à verdade
E confessa apenas assim:
– Quero acordar deste sonho!
Assim serás nova gente,
Com cara de mera verdade.

(E dirá de ti todo o mundo
Que foste redimido ao invés.
E que sabes mistério profundo
Da graça de ser o que És).


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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

UCEM - De como se desiste de uma possível carreira diplomática


Obrigado a ti

 Por algum tempo, há um risco em não se entender de que realmente fala o livro “Um Curso em Milagres”. Há certo período de confusão, descrito em diversas partes do Texto, apontando para os modos de iludir do ego, muitas vezes perceptível em suas formas de atrapalhos. O texto abaixo é uma reflexão acerca disto, e trata de uma aventura que empreendi: prestar concurso para o Instituto Rio Branco. No caso, eu — diplomata. Acho que toparia essa, de estudar assim. Mas por conta do texto abaixo, aceitei — tive que aceitar — que esse não seria meu caminho, embora seja um excelente caminho pragmático.
Estava revisando um exercício (Lição 135 — Se me defendo, sou atacado). Nesta Lição está escrito que “O céu nada pede”. Perguntei ao meu professor interno*, se realmente eu seria diplomata, um bom diplomata, e se era essa minha função, e eis o que ouvi:
Nota (*) nos termos nos quais se estabelece esse procedimento através do Curso.
O CÉU NADA PEDE. Quem sabe destas coisas, se alimenta do nutricional do mundo, que é a fé. A fé não é um pedido do corpo ou uma vocação da alma. A fé simplesmente ajuda o homem a se reconectar com o seu alimento. Quando se diz alimento, se quer dizer força e restauração. Um prato de comida pode ser útil para explicar o que queremos dizer. Num prato de comida, há vários alimentos, e cada um deles possui uma diversidade de nutrientes. Aqueles que melhor se enquadram em uma dieta de amor, são os que devem ter sido preparados de acordo com a facilidade que a cozinha fornece a quem tem experiência. Portanto, o que se come em uma experiência gastronômica é o ato empenhado do cozinheiro. No mais, há a ilusão de sabor e tudo o mais que alimenta o prazer.
Em vias de se dizer abandona-te, diremos apenas aquieta-te. Quieto, se ouve o som do próprio Ser bater no fundo do mais de peito, sendo além dele, pelo acordo maior que há entre a música e seus acasos de corpo, uma harmonia cordial. Verifica que tudo o que tens feito em relação ao momento presente tem sido uma argumentação em favor do passado, embora os termos nos quais isto se dê sejam muito escamoteados pelas referências atuais. A diplomacia é um caminho de conciliação com altas alegorias, e tem sido quista como fraude, embora tudo possa ser corrigido pelo uso que Espírito Santo faz. Se pedes, será dado; mas a vertente mais segura de tua apreciação da vida virá com a literatura, e seus tempos de atuação em Guimarães Rosa e em ti são diferentes, pelos propósitos que em suas vidas conjugava.  O que queres é uma boa nova, uma cordilheira em que vejas o caminhar do dia pelo alto. Não é possível em teus planos, não é possível através dos teus planos. O céu quer de ti apenas a quietude. O céu não pede esforços demasiados em relação a nada que não seja digno dele. Não deves fazer concurso para diplomata. Não deves fazer o que não te foi dito para fazer.

[Então, perguntei:] Mas se o céu nada pede, por que então ele pede para não fazer o concurso?

Não te é pedido para não fazer, não te é dita uma categorização. Quem quer te dizer o que fazer é o ego, com seus brilhos. O que te é pedido é apenas que cumpra a tua função aqui, e para isso se dá os conselhos. Os conselhos são ou não seguidos, de acordo com a ordem do executante e o empenho deste. O que se considera menos mal é a magia que há nas coisas deste mundo. Ademais, um empenho destes trará para ti uma bagagem de cultura e uma boa conta de dinheiros, mas o custo será o teu trabalho diuturno e a vivência de muitas deficiências de amor. Tens na tua mão a orientação certa, mas ela não te pede nada. Ela não te obriga a nada, e é isso o que a expressão “o céu nada pede” quer dizer.

[Então, fiz esta pergunta risível:] Se eu insistir?

Serás levado a uma série de conseqüências que te trarão de volta aqui.


E assim foi. Obrigado por leres até aqui. És bem vindo aqui. Te amo.


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domingo, 20 de fevereiro de 2011

Glauco

Glauco em aparição à ninfa Cila
Glauco é uma divindade marinha da mitologia grega que, diferentemente do deus Netuno, é mortal. Quando surge das profundezas, aparece sempre enroscado em algas, com as longas barbas brancas (ou esverdeadas, em algumas versões) gotejando, e traz as impurezas do mar aderidas ao corpo, de tal forma que não se percebe nesta imagem sua natureza divina. Por conta disso, Glauco não conseguiu o amor da ninfa Cila, que se assustou com sua aparição inesperada, quando ela estava na costa preparando-se para o banho. Cila depois irá desprezar o formato imagem de Glauco, carregado dos atados adereços.
Por conta de um feitiço da deusa Circe, Cila viu a si mesma numa fonte como o reflexo de monstros, e ficou tão perturbada, que acabou por imobilizar-se em metamorfose, tornada rochedo.  



 
                Glauco é a forma que exonera os equívocos da mente humana pela posição privilegiada do mar. Digo privilegiada não por conta de românticas paisagens ou passagens de ilustrações literárias, mas por conta de uma predisposição ao contato com as profundidades da natureza, que em determinado momento se estabelece pela demonstração da fealdade em si. A radiancia e o esplendor de Glauco se manifestam em sua doação ao mar, pelo contato com essas forças profundas, que permitem a navegação rumo ao desconhecido e a busca por terras novas. Cila, por sua vez, representa o equívoco do olhar exterior. No entanto, para além de uma interpretação apenas moral, acrescentamos que Cila perde a sanidade por conta de um desajuste em relação ao despertar motivado por um feitiço, pois enquanto em Glauco sua sujeira é consciente, ou seja, ele as em seu corpo, Cila foi obrigada por Circe a ver sua própria sujeira fora, como monstros, de modo totalmente inconsciente, o que lhe causou uma paralisação da vida, representada nesta versão do mito pela metamorfose em rochedo.   
Obrigado por leres até aqui. És bem vindo aqui. Te amo.


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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Um sonho que tive II

Durante a noite passada, sonhei com alguns atores em situação de penúria, pedinto esmolas nos cantos, encostados nas árvores; todos conhecidos meus, bastante talentosos, mas encarando dificuldades pelo estranho ato de mendigar sua fome. Depois, fui convidado a assistir à apresentação do Grande Músico, que eu não conhecia; mas durante sua apresentação, o que na verdade me surpreendeu foi o fato meramente circense de ele tocar violão como se manejasse as teclas de um piano. O Grande Músico era então  uma curiosidade apenas, um embusteiro talentoso. Depois, surgiram animais que se metamorfoseavam em outros, como um jacaré, que tinha serpentes no lugar dos pés. Logo em seguida, eu estava sentado em um banquinho como aqueles de longo comprimento, no qual caberiam várias pessoas. Nele estavam alguns músicos e atores de grande talento, e eu comecei a despencar dali. Então acordei. 

O curioso neste sonho, para além de seu conteúdo, é que durante esta semana teremos aqui em Cuiabá a apresentação de alguns trabalhos na área teatral. Eu vinha pensando em voltar a atuar, ou estudar meu violão, que ultimamente venho tocando melhor. Mas esse sonho me diz outra coisa. Então perguntei ao meu Professor Interno, a Voz que Fala por Deus, nos termos do Curso em Milagres, o que esse sonho significa, e ouvi isso:
Um sonho sobre arte tem necessariamente que abranger uma Constância acerca da evocação do meio no qual determinada arte de expressa. Quem tem o poder de atuar nesse meio, o faz pelo interesse pleno na forma e em seu atuante. Nenhum processo significativo pode transcender o meio pelo qual o processo artístico se delineia, e o que há em termos próprios, em suas mesmas necessidades, é um esteio que prevalece no todo. Segundo isto, seu sonho se configura como uma atenção especial ao permanecer de uma obra que se foi. Uma vontade não equilibra forças, mas atua como sendo uma mera conjunção, que não perpetua pela via expressa. Contudo, a alma do artista existe como uma dádiva da qual Deus não pretende jamais retirar, embora haja o equívoco dos meios. Seus pressupostos artísticos não são definidos por ti. Tudo o que se vê em uma atuação inexata de uma possibilidade atuante é em verdade apenas a sombra de uma verdadeira atuação. Portanto, para seres o que vieste destinado a ser, aprende apenas isto: nenhum equívoco perfaz o caminho de uma flor que se entrega ao chão — e o chão é a mina onde Deus guarda seus diamantes.

 Estou digerindo.

Obrigado por leres até aqui. És bem vindo aqui. Te amo.


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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Egoísmo

Quando alguém acredita que é egoísta, está supondo que escolhe de acordo com a sua vontade. Mas a vontade do individuo é o único parâmetro possível de escolha? Será a vontade o determinante do Ser? Obviamente, há certa predisposição à escolha que se faz pela volição. Mas muita vez em minha vida, uma ou outra ocorrência de destino surgia como que imposta por circunstâncias desconhecidas que sempre nomeei como “acasos”. Se eu digo que quero ir à praia de manhã, mas chove, será que é destino, acaso, má sorte, o que é? Sei que posso ainda ir à praia, mesmo com a chuva, e só o que pode acontecer é “os pingos da chuva me molhar”. Gosto de chuva, mas, se for assim, não fui eu quem escolheu a praia que fui.


"É os pingos da chuva me molhar" é o título de uma música da banda Novos Baianos, que fala que o que está "fora" é o reflexo do que está "dentro".


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Um passarinho no chão

Para Fernanda Conciani e João Silvério

Aqui é a Praça da Luz?
O que é um pássaro caminhando no chão? É um desperdício, um enguiço, uma tolice, o que será? Apenas os ingênuos responderiam “sim” a qualquer uma destas perguntas ou às suas variantes. Um pássaro no chão não é nada. É um momento em que o pássaro teve consciência da amplitude de si, não teve medo e pousou no chão. Dirão alguns que talvez lugar de pássaro seja o céu pra sempre. Engano — ao chão pássaro vem em busca de alimento, pois no sempre-sempre voo sua gastronomia estaria restrita aos insetos voadores, coincidências de modos gafanhotos, ou talvez uma estridulante borboleta em sua toleima de voo louco. Bem...tem aí o beija-flor, mas o beija-flor é um romântico incorrigível, e seu frenético bater de asas é cansativo até de ver.

Acho mesmo que pássaro que não quer o chão, mas é sábio, aproveita ao menos o pender das frutas. Aliás, o pouso do pássaro no galho da árvore semelha uma espécie de intervalo: nem chão, nem céu. A árvore, o fio do poste, o muro, são os seus não-lugares. (Eu não gosto destas expressões que dizem o inverso pelo continente: não lugar. Mas o mundo é assim mesmo e muita vez o que vale é o deixar como está).
O pássaro, voltemos, acho intrigante seus modos no chão. Mas alguns detestam e falam ainda em aleijo de asas, feridas tão profundas, mas esses não sabem nem pousar! São pássaros meio burros. Daí se estatelam no chão ou põem a culpa na existência do estilingue que nunca viram. Um pássaro no chão, aproveitar para beber água ou tomar banho — isso é bom, refresca. No chão: comer pipoca, palitar o jacaré e não ter medo nenhum de monstro. Um dia, o pássaro olha para o céu e vê sua casa. Voa, volta, voa, volta. É tão simples, pois lugar de pássaro é o mundo, e o mundo é o todo canto dele, pelo além de si.
Obrigado por ler até aqui. És bem vindo aqui. Te amo.



Agora eu vou!
 

UCEM - Um micro diálogo

Obrigado a ti


Entrei numa comunidade do Curso em Milagres no Orkut. Fiz uma pergunta tão boba em um dos tópicos do fórum que depois ri dela, e perdoei-me. Eis a pergunta e a resposta tão clara do irmão Clóvis, da comunidade.

Minha pergunta:

Imagens
Meus amigos, me ajudem.
Se o mundo não existe, o que são as imagens?
Um abraço.
Luz para todos nós.

PS:
Entendo que sejam ilusões, que "quase que dá pra pegar", mas o que são seus nomes e efeitos; o que são as cores, por exemplo? e o mar? Espero que me entendam. Um abraço.


Resposta de Clóvis.

Irmão André
Na página 711, capitulo 31, V do UCEM temos:

“Eu não sei o que eu sou e, portanto, não sei o que estou fazendo, onde estou ou como olhar para o mundo ou para mim mesmo.”

Entretanto, é aprendendo isso que nasce a salvação. E O Que tu és te falará de Si Mesmo.

Foi assim. Obrigado por ler até aqui. És bem vindo aqui. Te amo.


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