domingo, 20 de fevereiro de 2011

Glauco

Glauco em aparição à ninfa Cila
Glauco é uma divindade marinha da mitologia grega que, diferentemente do deus Netuno, é mortal. Quando surge das profundezas, aparece sempre enroscado em algas, com as longas barbas brancas (ou esverdeadas, em algumas versões) gotejando, e traz as impurezas do mar aderidas ao corpo, de tal forma que não se percebe nesta imagem sua natureza divina. Por conta disso, Glauco não conseguiu o amor da ninfa Cila, que se assustou com sua aparição inesperada, quando ela estava na costa preparando-se para o banho. Cila depois irá desprezar o formato imagem de Glauco, carregado dos atados adereços.
Por conta de um feitiço da deusa Circe, Cila viu a si mesma numa fonte como o reflexo de monstros, e ficou tão perturbada, que acabou por imobilizar-se em metamorfose, tornada rochedo.  



 
                Glauco é a forma que exonera os equívocos da mente humana pela posição privilegiada do mar. Digo privilegiada não por conta de românticas paisagens ou passagens de ilustrações literárias, mas por conta de uma predisposição ao contato com as profundidades da natureza, que em determinado momento se estabelece pela demonstração da fealdade em si. A radiancia e o esplendor de Glauco se manifestam em sua doação ao mar, pelo contato com essas forças profundas, que permitem a navegação rumo ao desconhecido e a busca por terras novas. Cila, por sua vez, representa o equívoco do olhar exterior. No entanto, para além de uma interpretação apenas moral, acrescentamos que Cila perde a sanidade por conta de um desajuste em relação ao despertar motivado por um feitiço, pois enquanto em Glauco sua sujeira é consciente, ou seja, ele as em seu corpo, Cila foi obrigada por Circe a ver sua própria sujeira fora, como monstros, de modo totalmente inconsciente, o que lhe causou uma paralisação da vida, representada nesta versão do mito pela metamorfose em rochedo.   
Obrigado por leres até aqui. És bem vindo aqui. Te amo.


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