quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

(Poemas que escrevi) - As Forças

As forças, o contato, a terra, o apoio do chão
Convidaram-me a sentir o seu sabor de fixo
E me aproveitei deste regalo.
Quis provar de uma raiz em um jantar natural,
Sentir o mesmo sabor da Raiz que um dia eu comi
Numa distante ceia que ainda me apetece e chama.

Pois no dia, que fora de festa,
— Falsa festa em que chovia —
Convidei os meus amigos a entrar e jantar comigo,
Pois era tempo de fome.
Pareciam desnutridos, os sonhos de meus amigos.

Cozinheiro não havia nessa estranha refeição.
A raiz — imaginei-a brotando imenso tubérculo
Cozido em formas de amarelo morto
Jamais nascido do chão, com mil olhos a me ver
imponderável em sua sina
Pois seu fascínio era o terror
De uma angústia laboriosa.
Não era raiz de colheita
— batatas que se vence —
Era raiz inventada,
Sabor defeito de vento.

Aproximei da panela
Que flutuava sobre a mesa
A doze palmos do chão.
Apanhei uma porção, amassei as suas formas,
Pus no prato, fiz purê.
Mas a colher que me trazia a massa à boca
Insistia em flectir seu retorno
Em estranhas torções metálicas
Retornando a massa de nada
ao imenso nada que era.
Eu e meus amigos, todos com fome e ânsia,
Congratulávamos  apoios tímidos,
Pois era ceia de Natal.

Não é que em tanto esforço
Nenhum percebia nada?
Parecia fosse festa!
Todos acreditavam,
Diziam lindas canções,
Trocavam presentes estranhos
Diziam adivinhações.
Tudo era susto e enleio,
Pois sob nossas cabeças
Pairava a imensa ameaça
Julgando com tantos olhos
—alguns injetados de ódio —
Os nossos belos jardins.

Pois que ao lado da mesa
Enraizada na terra
— Essa nesga de verdade —
Via-se ali um jardim
Perene em sua existência
Jardim de pomar de flores
Muitas, muitas davam frutos.

Mas eu e os meus amigos
Jamais ousávamos tanto.
Era a ilusão flutuante
Com mil olhos sobre nós
Quem atirava um julgamento
Com voz marcante de fúria:
Fruta é mentira inventada!

Em meio ao medo de tudo
Cantávamos canções de fuga.
E uns aos outros desejávamos qualquer sorte de Natal.


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