quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O leão, a águia e o grifo.



O olhar sereno do leão


Uma vez vi de perto um leão em um zoológico no Paraná. Imponente, é o mínimo que se pode dizer dele. O que mais me chamou atenção, entretanto, foi o olhar do animal. O leão tem um olhar compenetrado, luzidio, que parece apreender o terceiro lado das coisas. Meu amigo Vitor disse-me certa vez que os gatos são tidos por alguns gnósticos como seres que estão em permanente contato com a transcendência. Seriam metafísicos por experiência, os gatos. O leão é um felino; portanto, vem daquela linhagem, e esta característica me fez pensar que o mais forte dos seres vivos sobre a terra deve estar também em contato com algo que gera ao menos uma percepção certa.


Se eu fosse um bicho, queria ser leão, mas isso é dizer bobagem. A águia também é uma opção interessante, mas a águia não me agradou, pois me parece que os animais que voam são destituídos de peso, por alguma espécie de cálculo que não pode ser medido pela régua da razão. Eu acho que ainda estou “me sendo” pelo denso. Então seria o leão e seu olhar quem me configuraria um formato adequado para esta vida virtual. Contudo, a águia é citada pelo poeta inglês William Blake em sua obra O Matrimônio do Céu e do Inferno como uma “parcela do gênio”.

"Parcla do Gênio",
segundo Blake.


Segundo o Dicionário de Símbolos, de Chevalier, “os bambaras, impressionados por sua força serena, fizeram dele [o leão] uma alegoria do saber divino e um grau, na hierarquia social tradicional, que só tem como superior o dos sacerdotes sábios”.


O leão é chamado de rei dos animais. A águia: “parcela do gênio”. No bestiário medieval existia a figura mitológica do “grifo”. Com cabeça e garras de águia e corpo de leão, a criatura simbolizava a perfeição entre o espiritual (águia, como animal perfeito, que alça aos céus) e o terreno (leão, que pela imponência de sua majestade sábia e inequívoca governa o mundo). A sabedoria do leão e o alçar impetuoso da águia correspondiam a uma metáfora de completude que se realiza no grifo.


Ao Céu, Grifo! 
© arte: Amisgaudi


Nenhum comentário:

Postar um comentário