quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

UCEM - Quanto tempo leva até Deus dar o "passo final"?


O livro "Um Curso em Milagres" afirma que o esforço para alcançar uma transformação na consciência depende consideravelmente da disponibilidade do estudante, contudo este esforço dar-se-á até um nível limite, pois quando estiver pronto, o estudante será gentilmente conduzido por Deus ao estado de intemporalidade e ao conhecimento além da percepção. Obviamente, ele não está sozinho nesta jornada, pois o Espírito Santo estará auxiliando-o sempre, mas o Texto deixa ainda claro que cabe ao próprio estudante distinguir entre a Mente Certa e a mente errada, até alcançar optar bem. Quando a opção exclusiva pela Mente Certa gerar a Percepção Certa, o medo será desfeito, e então será possível a passagem pela “estreita fenda” entre a percepção e o conhecimento.
Esta afirmação, entretanto, comumente gera anseio generalizado nos estudantes do Curso em Milagres. Chamo isso de “complexo de antes”. Explico: é como se o estudante quisesse tudo para antes, esse “antes” sendo o momento em que ainda não pronto para o conhecimento. Sendo o conhecimento inapreensível pelo ego, mas estando o estudante ainda vivenciando o mundo em termos egóicos, a irrupção de um estado completamente consciente dependeria de uma preparação ideal do estudante, pois, caso contrário, o medo inconsciente que surgiria mediante a “Visão de Deus”, ou seja, o conhecimento em si, poderia desestabilizar completamente um indivíduo. Existem vários registros de ocasiões dramáticas registradas na história da humanidade que narram pessoas atordoadas por uma irrupção divina inadvertida, isto é, não preparada. O psicólogo Carl G. Jung, por exemplo, em seu livro “Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo” (Ed. Vozes, §17ss) narra um caso interessante, de um suíço chamado Nicolau de Flüe, ou Brunder Klaus (irmão Klaus), como é conhecido em seu país. Ao que tudo indica, este homem foi apresentado ao conhecimento* sem estar naturalmente pronto para isso. O medo que o assomou foi tamanho que ele abandonou sua casa e família, e se isolou em uma cela (quarto) monástica, e somente o perdão o salvou de um destino catastrófico, conforme veremos.

Bruder Klaus

O perigo de não se estar preparado para o conhecimento é não conseguir reconhecê-lo de maneira adequada quando Deus vier, isto é, serenamente. O ato de estudar o Curso em Milagres, e principalmente de realizar com seriedade os exercícios, cria a condição necessária para que o processo de “transferência” possa ser feito com muita gentileza, evitando distúrbios por conta de uma incompreensão total do que está acontecendo, além, obviamente, de evitar que toda a culpa e medo não trabalhados sejam rompidos num só instante, o que seria uma sobrecarga para qualquer um. Isso causaria um estado de pânico, se ocorresse assim, mas quero lembrar ao leitor, estudante do curso ou não, que existe um caminho para cada um, que é orientado por Deus e Guiado pelo Espírito Santo, para ser executado com muita paciência, gentileza e amor. Exemplos extremos servem apenas para que possamos compreender melhor o perdão, tal qual se vê no próprio Texto do Curso, quando Jesus fala da crucificação:
(…) A minha única lição, que eu tenho que ensinar como aprendi, é que nenhuma percepção que esteja em desacordo com o julgamento do Espírito Santo pode ser justificada. Eu assumi mostrar que isso foi verdadeiro em um caso extremo, meramente porque dessa forma serviria como um bom recurso de ensino para aqueles cuja tentação de se entregar à raiva e à agressão não seria tão extrema. Minha vontade unida à de Deus é que nenhum de Seus Filhos sofra. (UCEM – Cap.VI – Item 1 – § 11)

No caso do Brunder Klauss, que citamos anteriormente, a irrupção inadvertida do conhecimento em si causou uma estranha perturbação à sua personalidade. A revelação do mundo como uma ilusão foi demais para ele, que não estava ainda preparado para experimentar as imagens do mundo através de uma percepção certa.  De repente, toda a verdade surgiu revelada, e o que ele viu causou terror. Como dissemos, Brunder Klaus isolou-se em uma cela monástica, no final do séc. XV. Lá, passou a desenhar mandalas, para não enlouquecer. Nessas mandalas, podem-se ver desenhos de conteúdos cristãos, como a Santa Trindade e o semblante coroado de Deus, além do selo de Salomão e outros. Jung cita que uma destas mandalas ainda está preservada na Igreja Paroquial de Sachseln, na Suíça.


O centro da mandala de
Brunder Klaus. Séc XV

A expressão de termos cristãos nas mandalas de Brunder Klaus o salvou, pois o Espírito Santo fazia o trabalho de desfazer o medo através destes símbolos, indicando para Si Mesmo que aquilo que acontecera era sagrado, equivalente ao semblante coroado de Deus, pois era preciso que Brunder Klaus entendesse e assimilasse isto em sua consciência. Deve ter sido um trabalho exaustivo. Por fim, Klaus conseguiu aos poucos compreender o que se passara com ele, nos termos cristãos disponíveis à época. Poderíamos dizer, modernamente, que o Bruder Klaus foi exposto a um caso extremo, e que ele perdoou o próprio Deus através do Espírito Santo pela inspiração da elaboração dos símbolos cristãos em suas mandalas.
O Curso em Milagres fala o tempo todo em perdoar, mas em alguns momentos específicos trata do medo de Deus. Diz que nós temos medo de Deus, que invertemos o modo de pensar e que todo o nosso sentido de inadaptação está radicado nessa inversão. Isto está explicitado nesta citação do Curso:
(…) O que parece ser o medo de Deus é realmente o medo da tua própria realidade. É impossível aprender qualquer coisa consistentemente em um estado de pânico. (UCEM – Cap.IX – Item 1 – § 2)
Como dissemos, outros casos semelhantes aos de Bruder Klaus foram registrados na história. São Paulo, por exemplo, no caminho de Damasco, teve a “Visão de Deus” manifestada através de uma ideia, que era a de arrependimento e perdão aos cristãos, aos quais ele mesmo muitas vezes assassinara. Paulo também, através da experiência da revelação, se tornou um homem compassivo e sábio.

Pedimos, portanto, que a Verdade não nos seja revelada de modo traumático. Pedimos agora ao Espírito Santo que nos conduza com gentileza e amor pelo tempo que for necessário para nossa própria conscientização. Pedimos para que nosso processo seja dirigido pelo Nosso Senhor Jesus Cristo, e comprometemo-nos em fazer nossa parte ao praticar o perdão, e que assim ajudemos o Espírito Santo em seu trabalho e economizemos tempo, essa ilusão. Esperemos com paciência, e não desejemos o destino perturbador de nosso irmão Klaus. Por sua resignação e paciência, e pela sobrevivência heróica de Bruder Klaus (irmão Klaus), podemos mesmo chamá-lo de exemplo, ou santo. Seu nome completo, Nicolau de Flüe, veio a ser canonizado pela Igreja Católica, e há várias igrejas na Europa consagradas a ele, nosso irmão. O que aconteceu com Bruder Klaus era para ele, pois “não existem acidentes na salvação.” (UCEM – MP – pág. 7). Sobrevirá o momento de cada um. Para isso, paciência, meu caro. Peça apenas paciência ao Espírito Santo, quando lhe surgir qualquer ansiedade em se tornar “iluminado”. Empenhe-se nos exercícios e estudos, pratique o perdão em qualquer oportunidade, e lembre-se destas palavras do Texto:

… Eu não esqueci ninguém. Ajuda-me agora a conduzir-te de volta para onde a jornada começou, para que faças outra escolha comigo. (UCEM – LE – pág. 347)

Vitral da Mandala de Bruder Klaus na Igreja de Sachseln, Suiça.

Um comentário:

  1. Amigo querido com certeza este e uns dos instantes santos que nosso Pai tem ofertado ao meu, teu, nosso coracão.
    Estou embriagada em agradecimento, sem palavras, com muito carinho
    obrigada.
    soniavatan

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